A Bem-Aventurada Clélia Merloni e a Humildade

A humildade se tornou um dos principais objetivos a serem alcançados, e uma das características principais da espiritualidade da Bem-Aventurada Clélia Merloni.

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Madre Clélia Merloni, beatificada em Roma, no dia 3 de novembro de 2018, é a Fundadora do Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. Uma mulher a ser conhecida para poder compreendê-la e saber que ela amou incondicionalmente o Coração de Jesus e tudo fez para torná-lo sempre mais conhecido e amado. Para tanto, sugerimos a leitura do livro “Como um grão de trigo”, de Nicola Gori. 

A vida da Madre foi muito atribulada e de grande combate humano e espiritual para superar os sentimentos mais íntimos que a teriam arrastado por caminhos mais fáceis à natureza; mas ela nunca cedeu e, com coragem, escolheu percorrer a via estreita, “armada” pela oração e “revestida” pela humildade. É admirável a fortaleza desta mulher!

“Vencer a si mesma é o decreto dos santos! Este é o caminho que Deus traçou, também, para mim, a via estreita, o amor das humilhações e das cruzes, o espírito de generosidade, de sacrifício, a morte a tudo aquilo que não é Deus e não guia a minha alma, diretamente, a Ele”.

A humildade se tornou um dos principais objetivos a serem alcançados e uma das características principais da espiritualidade da Bem-Aventurada Clélia Merloni. Em todo o seu Diário, encontramos rastros do papel fundamental que essa virtude exerceu na sua trajetória espiritual.

A Madre relata uma experiência interior recebida, que destaca a importância da humildade em sua vida: “No meu interior senti: Não basta desejar as virtudes, é necessário que faças violência a ti mesma para praticá-las, especialmente a humildade, sem a qual não poderá florescer, no teu coração, a caridade. Coragem, a luta é dura, mas será mais belo, o triunfo. Lança-te, com grande confiança em Deus, convence-te que sem Ele nada de bem poderás fazer, que se consegues fazer algo de bom é por graça Dele, se erras é por culpa da tua fraqueza e não dos outros, nem das circunstâncias”.

Destas palavras emerge uma verdade fundamental: a humildade é a base de todas as virtudes, sem a qual a caridade não pode se desenvolver. Para consegui-la é necessário constância e muita vontade, além da ajuda do Senhor. Trata-se de uma verdadeira e própria luta, porque os inimigos, que procuram impedir-lhe o crescimento, são numerosos e dissimulados. No entanto, existe um recurso invencível, que é a confiança em Deus e a Madre tinha grandíssima confiança no Coração de Jesus. Graças a esta confiança, a pessoa pode obter aquilo que deseja, colocando-se em sintonia com o Senhor. É justamente com essa confiança que Madre Clélia conseguiu viver sempre, cultivando, cada dia, aquela humildade necessária, que é o terreno fértil para construir todo o edifício espiritual. 

Naturalmente, junto com a confiança no Senhor, a Bem-Aventurada foi uma mulher de oração. A sua união com Deus se nutria, diariamente, com a oração cheia de confiança e esperança Naquele que tudo pode. Quantas vezes, talvez, a sua oração e sacrifício foram uma bênção para suas filhas, que estavam trabalhando na vinha do Senhor para levar aos homens a alegria do anúncio evangélico e o perfume da caridade de Cristo. Tudo isso, porém, passou despercebido e oculto aos olhos da maioria, não só dos irmãos, mas de suas próprias filhas.

Conclusões espirituais

Uma pessoa humilde vê suas imperfeições e sente a necessidade da ajuda de Deus que é infinitamente bom e misericordioso. A pessoa humilde não nota os erros dos outros e está sempre pronta a perdoar. Ela aspira à perfeição e deseja estar sempre próxima de Deus e seu mais importante objetivo é amá-Lo e glorificá-Lo.

A fé cristã nos chama a sermos modestos e humildes, aceitando que tudo de bom em nós não é nosso, mas pertence a Deus. Realmente, tudo vem de Deus: nossa vida, a beleza do mundo e tudo o que nossos olhos podem ver e nossos sentidos experimentar como também nossa saúde e os vários talentos e dons que recebemos do Criador. Pela nossa fé, para o perdão de nossos numerosos pecados, para a libertação de perigos desconhecidos, para bênçãos cheias de graça, para os caminhos imperceptíveis pelos quais a Sua providência nos leva ao Seu Reino; por tudo isso e muito mais, devemos sempre ser gratos ao nosso Pai Celestial, que nos dá toda a Sua bondade através de Seu único Filho, que morreu na cruz por nós, pecadores. Se não impedirmos Deus de nos salvar, estaremos todos no Céu. 

Portanto, a humildade é a pobreza preciosa que nos leva à escalada das virtudes, enriquecendo-nos com dons espirituais e, finalmente, colocando-nos na entrada do Reino do Céu.

Como orar a partir da humildade?

Para nos tornarmos pessoas humildes devemos prostrar-nos em oração e contemplar Jesus na Eucaristia. Ali Ele esconde a sua Glória para que o brilho de sua Majestade não ofusque a nossa vista impedindo-nos de chegar a Ele. Jesus desce até ao nada na Hóstia para que desçamos com Ele e sintamos profundamente o que Ele disse: “vinde a Mim… aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. O Rei da Glória se rebaixa ao mais baixo degrau da humildade para deixar-nos o seu exemplo. Este estado humilde e escondido de Jesus anima a nossa fraqueza, nos dá coragem de falar-lhe sem receio e contemplá-lo. É melhor que Jesus permaneça humilde e velado; assim poderemos aproximar-nos Dele, sem medo e sem ser repelido; e poder, então, desfrutar do seu Amor.

A Bem-Aventurada Clélia Merloni nos diz: “Estarei particularmente, muito atenta e vigilante, sobre todos os movimentos do meu coração, para manter, em mim, o espírito de humildade. Procurarei aproveitar todas as ocasiões para humilhar-me, alegrando-me por reparar os meus pecados”. 

Mas o Mestre por excelência da humildade é o próprio Jesus que disse: "Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas”. Repitamos isso muitas vezes para, também nós, sermos pessoas que vivem a mansidão e a humildade.


Ir. Maria Josefina Suzin, ascj